ATA DA TRIGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 26.09.1991.

 


Aos vinte e seis dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e noventa e um, reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Terceira Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a homenagear o idoso pela passagem do seu dia, a Requerimento aprovado do Vereador Vicente Dutra. Às dezesseis horas e quatorze minutos, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos, convidando os Líderes de Bancadas a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades convidadas. Compuseram a Mesa: Vereador Omar Ferri, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhoras Nara Rodrigues, Presidente do Conselho Estadual de Idosos; Elly Rotermund Kohlmam, Fundadora e Presidente do Grupo de Idosos “Raio do Sol do 25 de Julho”; e Ilka Knorr, Presidente do Grupo Arco-Iris, da Comunidade Evangélica; e Senhores Antonio Parisi, Diretor Vice-Presidente do Conselho dos Idosos; Artidor Zimmermann, Presidente da Associação de Clubes da Maior Idade do Rio Grande do Sul; e Valdir Bohn Gass, Presidente da Fundação de Educação Social Comunitária. Ainda, o Senhor Presidente registrou as presenças, no Plenário, da Senhora Edi Zimmermann; dos Senhores Firmino Sá Cardoso, representando a Associação Riograndense de Imprensa; Rogério Ferreira; e Antonio da Silva, Diretor Administrativo e Chefe da Contabilidade da Fundação de Educação Social e Comunitária – FESC; do Clube Esperança, nas pessoas das Senhoras Marina Xavier Nunes, Presidente, Dorcelina Ruszkowski, Vice-Presidente, e Aurora Camargo, Fundadora; e dos Grupos Moguinha, representado pelas Senhoras Maria Elizabeth Helm, Técnica Responsável, América Kubeski e Raquel Franco, Técnica Responsável; e Semear – Centro Esportivo George Black, representado pela Senhora Gislaine Robaina. Após, o Senhor Presidente fez pronunciamento alusivo a homenagem, registrou o recebimento de correspondências alusivas ao evento, oriundas dos Senhores Vice-Governador do Estado, Doutor João Gilberto Lucas Coelho, e Presidente da Assembléia Legislativa do Estado, Deputado César Schirmer, e anunciou os oradores que falariam em nome da Casa. O Vereador Vicente Dutra, na condição de Autor da proposição que originou a homenagem e em nome das Bancadas do PDS, do PDT, do PMDB, do PTB, do PCB e do PL, ponderando sobre a composição por faixa etária da população brasileira, invocou pela participação social dos idosos. Manifestou seu reconhecimento e agradecimentos às Entidades que congregam os idosos, em especial ao Conselho de Idosos, pelo trabalho que realizam. E o Vereador João Motta, em nome das Bancadas do PT e do PFL, manifestou-se sobre o papel do idoso no Brasil, bem como sua respectiva posição na sociedade, e postulou pelo seu reconhecimento e pelo resgate de seus direitos sociais. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Senhores Valdir Bohn Gass, Antonio Parisi e Artidor Zimermann e à Senhora Elly Rotermund Kohlmann, que manifestaram-se sobre a problemática do idoso e agradeceram pela homenagem prestada pela Casa. Às dezoito horas e vinte e nove minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Omar Ferri e secretariados pelo Vereador Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Na condição de Vice-Presidente, no exercício da Presidência da Câmara de Vereadores, declaro abertos os trabalhos da presente Sessão Solene que, conforme Requerimento do Ver. Vicente Dutra, destina-se a homenagear o idoso no seu dia. O Ver. Vicente Dutra formulou o pedido através do Requerimento nº 03, do corrente ano, que se consubstanciou no Proc. nº 031/91.

A Mesa é composta pela minha pessoa e pelas demais que passarei a chamar nesse momento: convido o Ver. Vicente Dutra, que propôs a Sessão Solene, para fazer parte da Mesa; convido a Srª Nara Rodrigues, Presidente do Conselho Estadual do Idoso; convido o Presidente da Associação de Clubes da Maior Idade do Rio Grande do Sul, Sr. Artidor Zimmermann; convido o Sr. Presidente da Fundação de Educação Social e Comunitária do Município de Porto Alegre - FESC, Sr. Valdir Bohn Gass; convido a Senhora Fundadora e Presidente do Grupo de Idosos Raio do Sol do 25 de Julho, Srª Elly Rotermund Kohlmam, tenho o prazer de convidar a Srª Ilka Knorr, Presidente do Grupo Arco-Íris, da Comunidade Evangélica; convido também o Sr. Firmino Sá Cardoso, que representa a Associação Riograndense de Imprensa - ARI.

Não havendo mais lugares à Mesa, esta Presidência considera como integrantes da Mesa Diretora dos trabalhos a Srª Edi Zimmermann; o Sr. Rogério Ferreira; o Diretor Administrativo da FESC, Sr. Antonio da Silva, que é também o Chefe da Contabilidade da FESC; O Sr. Antonio Parisi. A Mesa registra a presença do Ver. João Motta, do PT.

Antes de passar a palavra aos oradores desta solenidade, tenho o prazer de ler algumas manifestações, como a do Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. João Gilberto Lucas Coelho, mandou um gentil cartão, que diz o seguinte: (Lê.)

“Agradeço o honroso convite para participar da Sessão Solene dedicada a homenagear o idoso. Lamento a impossibilidade de comparecer por motivo de compromisso anteriormente assumido.

(a)    João Gilberto Lucas Coelho,

Vice-Governador do Estado”.

Da mesma forma, a Presidência da Casa recebeu um telegrama subscrito pelo Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, que diz o seguinte: (Lê.)

“Agradeço o convite para a Sessão Solene em homenagem ao idoso. Lamentavelmente, compromissos anteriores agendados me impedem de comparecer. Atenciosamente. Um abraço a todos.

(a)    Deputado César Schirmer,

                                                   Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do RS.”

Farão uso da palavra, hoje, os Vereadores Vicente Dutra, que falará em nome de sua Bancada, o PDS, e em nome do PDT, do PMDB, do PTB, do PCB e do PL, e João Motta, que falará em nome de sua Bancada, o PT, e em nome do PFL. Ao final, será concedida a palavra ao Dr. Antonio Parisi.

De minha parte, em nome da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, oficialmente em nome dos Srs. Vereadores, eu me sinto muito honrado em presidir a presente Sessão e apresento a todas as Senhoras e aos Senhores os votos de parabéns cumulados com muitas felicidades pela comemoração, no dia de hoje, da data dos idosos, especialmente por essa demonstração de apreço e carinho do Município e da comunidade de Porto Alegre a V. Sªs aqui presentes que vieram engrandecer esta solenidade.

Eu diria, já que o Presidente, por questão de protocolo, tem que também dirigir algumas palavras, eu diria que com todo o peso da minha alma e dos meus sentimentos, existem dois segmentos sociais, e vou usar um termo muito pesado, que são hoje traídos pela Pátria, não digo Nação, porque Nação não existe, digo pela Pátria, desde a infância, que anda perdida e desamparada, e as pessoas de idade que não receberam, até hoje, a compreensão dos Poderes Públicos como deveriam receber. Infelizmente, estamos atravessando esta época de muita crise, de muita tristeza em nosso País, mas se nós, com as nossas idades, ainda não perdemos as esperanças é bom que isso tenha ocorrido, porque as nossas esperanças se transformam, nós temos no futuro, no destino do nosso País, porque acreditamos, porque nós pensamos que todas as pessoas que habitam nossa Pátria são decentes, corretas e honestas, como nós somos - apesar de assim não ser. Mas quem sabe algum dia isso tudo melhore e a gente tenha pelo menos condições de dar aos nossos filhos e aos nossos netos a Pátria que nós queríamos para nós.

Vou encerrar dizendo que há poucos dias eu me encantei e vibrei de emoção em ver uma platéia, uma assistência de, aproximadamente, mil pessoas aplaudirem de pé uma das maiores artistas da América Latina, que com os seus 82 anos encantava toda a platéia presente num dos teatros desta Capital, por três vezes a assistência se levantou e aplaudiu de pé; este é o símbolo das mulheres de valor do nosso continente; como tem valores homens, por exemplo, como Sobral Pinto que com os seus 92 anos ainda está pleiteando o direito e a justiça nos sagrados pretórios deste País.

As nossas homenagens a todos os Senhores e Senhoras e os nossos votos de parabéns. Muito obrigado.

Falará, em nome das Bancadas do PDS, PDT, PMDB, PL, PTB, PCB, o Ver. Vicente Dutra, que requereu esta solenidade.

 

O SR. VICENTE DUTRA: (Menciona os componentes da Mesa.) Srª Elly Rotermund Kohlmam, Cidadã de Porto Alegre, com muito orgulho para esta Casa, Presidente e Fundadora do Grupo de Idosos Raio do Sol do 25 de Julho. A nossa saudação muito especial ao Dr. Antonio Parisi, que depois falará em nome do Conselho de Idosos; Srª Edi Zimmermann, esposa do companheiro Artidor Zimmermann; Srª Emília Lampert, também atuante na área de idosos, aqui em Porto Alegre, e com muito orgulho para esta Casa também Cidadã de Porto Alegre; ilustres e queridos amigos Osvaldinho Bubichz e Zeno Zimmermann, representando o Círculo Operário Porto-Alegrense, que se fazem acompanhar de suas digníssimas esposas. Ainda registro as presenças do Clube Esperança, grupos coordenados pela FESC, cuja Presidente é a Srª Marina Xavier Nunes, Vice-Presidente, Srª Dorcelina Ruszkowski, e a fundadora do Grupo, Srª Aurora Camargo, do Grupo Moquinha, Presidente, que não está, a Técnica Responsável é a Srª Maria Elizabeth Helm, Srª América Kubeski, e a Técnica Responsável, Raquel Franco; do Grupo Semear, do Centro Esportivo George Black, a Srª Gislaine Robaina.

Sr. Presidente, os números mais exatos obtidos pela sociedade brasileira a respeito da sua população já nos indicam que, atualmente, existem cerca de 10 milhões de idosos, o que corresponde a um índice de 6,7% do total dos habitantes do País. Estes mesmos números nos permitem a feliz projeção de que em menos de uma década – a contar de hoje – ou seja, no ano 2000, haverá 14 milhões, o que quer dizer 8%, e que em 2025 serão 33 milhões, 13,5%. Antes que nós compreendêssemos a relevância de um forte contingente de velhos, estas projeções talvez pudessem nos preocupar, pois fomos nós mesmo que, equivocadamente, ainda há bem pouco, nos orgulhávamos em ser um País de jovens. Certamente, não entendíamos que a existência de muitos moços – e poucos velhos – espelhava, apenas, o nosso subdesenvolvimento, nossa precária alimentação e nossas deficientes políticas de saúde.

Um país de moços é um país que descuida de sua mocidade. Eu infelizmente, não posso, hoje, nesta tribuna – quando meus pares me proporcionam a oportunidade de, mais uma vez, homenagear os idosos – empunhar a bandeira do tão sonhado e alcançado desenvolvimento, e nem posso – queira Deus que possamos ainda nesta geração, fazê-lo – dizer que superamos nossos mais graves problemas sociais. No entanto, eu não devo deixar de me regozijar com a possibilidade de ver crescido o número de velhos. De um lado porque, de alguma forma, é já indesmentível que nossa preocupação para com eles é também crescente, o que significa dizer que, a cada dia, mais fazemos por sua felicidade e confortos material e espiritual. De outro, porque me ocorre a consciência do proveito que eles costumam transmitir aos jovens. Já não entendo, e já não aceito, a constituição social baseada tão-somente num mundo novo, pois, ensina-me a própria experiência pessoal, que toda a vez em que buscamos a construção de um mundo novo, acabamos por recorrer ao conhecimento dos velhos.

Afirmo aqui – na oportunidade desta tão sincera homenagem que o povo de Porto Alegre presta aos seus idosos - que se me fosse dado escolher entre um mundo de jovens e um mundo de velhos, eu não hesitaria em dizer que o ideal dos mundos será aquele que os moços, os moços esperançosos, os moços revolucionários, os moços empreendedores, não tenham prescindido da sabedoria dos seus antepassados.

Permito-me, em nome dos meus pares, repetir aos Senhores, fragmentos de uma incansável pregação que tenho feito onde quer que me seja dada a possibilidade da palavra: trata-se da ótica segundo a qual o melhor que podemos fazer por eles – o que inevitavelmente significa fazer por nós mesmos, num futuro mais próximo do que julgamos poder imaginar – é reintegrá-lo não só ao nosso convívio pessoal, mas reintegrá-los, também, ao sistema produtivo – especialmente o sistema educacional – onde a ausência dos velhos nos tem custado um preço mais alto do que aquele que realmente podem os moços pagar.

Eles são sábios conselheiros, orientadores sensatos, mestres inesquecíveis. Talvez sejam estas as razões que me levam a trazer até esta tribuna, hoje, não uma simples mensagem de carinho e agradecimento, mas uma proposta concreta no sentido de que devemos nos valer deles, aos quais cabe optar por um caminho de merecido descanso ao lado de justa remuneração por jornadas reduzidas de socorro a todos nós. Se eles estiverem ao nosso lado, certamente conseguiremos preservar nossa história. E certamente, conseguimos construir um futuro sem medo e sem dúvidas.

Deixo aqui, ainda, os mais sinceros agradecimentos às entidades que congregam os interesses dos idosos, e especialmente ao seu Conselho, sem as quais nós não teríamos a plena convicção do acerto da medida que é o reconhecimento do relevante papel desempenhado pelos idosos. E não posso deixar de expressar, por fim, o agradecimento pessoal e o desta Casa a todos os Senhores e Senhoras que tiveram a bondade de vir até este Plenário, hoje, para nos auxiliar, mais uma vez, a estreitar os laços de carinho e o sentimento de profunda gratidão que nos unem. Muito obrigado!

Registro, também, a presença do Feijó, Presidente da Sociedade Padre Cacique, de modo que hoje estamos dando continuidade a todos os pronunciamentos muito bonitos que se fizeram aqui desta Casa, quando se homenageou os 110 anos do nosso querido Asilo Padre Cacique. Naquela oportunidade eu fazia uma reflexão e todos os demais Vereadores do que seria há 110 anos Porto Alegre, porque esta atenção para com os idosos ela começou a tomar vulto, os técnicos aqui poderão dizer, começou no máximo há 15 anos - se é que tanto.

Eu, ontem, escutava uma voz solitária do Silvio Lafen, não sei por que não está presente hoje nesta Sessão, ele trabalhava na Cáritas, era advogado, e o Silvio dizia: “olha, este é um assunto importante, o velho é rejeitado neste País, é um problema que atinge o problema social, é o único problema social” – V. Exª destacou muito bem o problema do menor também, são os dois extremos – “que atinge todas as faixas sociais, tanto os mais abonados como os mais desprotegidos da sorte sofrem as mesmas rejeições.” É um fenômeno interessante e isto tem que ser corrigido e tenho absoluta convicção de que Porto Alegre hoje avança a passos largos neste amplo trabalho de conscientização, porque nós só conseguiremos atingir o status em que chegou o europeu, o americano, sem falar no milenar Japão, com um trabalho de conscientização.

O resto tudo será conseqüência deste trabalho de conscientização, à medida em que se estiver conscientizado da importância do que o idoso pode trazer de contribuição, da gama de conhecimento e experiências que ele tem a dar, é importante para a Nação, daí sim teremos uma sociedade realmente desenvolvida. Acho que na raiz deste problema, da falta de atenção com o idoso é que reside, certamente, a base, a raiz de grande parte dos problemas em que vive o nosso País. Esta descontinuidade, esta desatenção, esta valorização do que é útil, desconhecendo que o velho é muito mais útil do que possamos imaginar, que aqueles que não o admiram não sabem imaginar, não sabem usufruir, não sabem retirar a gama de conhecimentos e de ensinamentos que ele tem a nos dar. Vejo ali o Zeno, um grande lutador pelo Ciclo Operário, sei que daqui mais a alguns dias, em conjunto com os companheiros do Círculo Operário, vão lançar a pedra fundamental de um grande centro de acolhimento, de um lar dos idosos, Lar São José, e eles têm lutado há muito anos para que este objetivo seja concretizado.

Que Deus ilumine a vocês todos que estão lutando por essa causa e que possamos a cada ano voltar aqui para que, pelo menos, possamos nos encontrar e novamente fazermos esta reflexão! E, tenho certeza de que, a cada ano em que nós nos encontrarmos, nesta Casa, nós teremos avançado mais ainda nesse grande trabalho, como disse que é o trabalho de divulgar, de conscientizar para que a sociedade toda passe realmente a destinar o seu carinho, a sua atenção e o seu respeito pelos mais idosos. Muito obrigado e felicidade a todos.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registro a presença do Sr. Marcelo Generali, que representa a Secretaria da Saúde; está presente também a Srª Rosa Rigotto, Técnica Responsável do Cecopan, pertence à Comissão de Educação Social; e vejo, com muito prazer, a presença da Profª Cecília Lucena, minha velha amiga que está presente para a nossa honra e prazer.

Passamos a palavra ao Ver. João Motta, que vai falar pelas Bancadas do PT e PFL.

 

O SR. JOÃO MOTTA: (Menciona os componentes da Mesa.) Prezados presentes. É preocupação da humanidade, inserida na história das idéias, a situação do ser humano quando atinge a velhice. Não se trata simplesmente da sua sobrevivência física, restringindo a análise às peculiaridades de uma determinada sociedade onde a questão da produtividade e o acesso e a participação nela seja o critério exclusivo para a formulação de juízos e de políticas públicas a respeito do homem. Platão, Sócrates, Aristóteles já refletiam, na Antigüidade, que papel desempenhavam ou deveriam desempenhar os velhos na sociedade, atribuindo sabedoria, experiência ou mesmo polemizando sobre a dicotomia jovens x velhos.

Mais recentemente, a escritora Simone de Beauvior, em sua obra “A Velhice”, faz um apanhado, a partir da Antigüidade, acerca do tratamento dado aos velhos por diversas sociedades. Portanto, a abordagem que devemos fazer não pode, necessariamente, ao se discutir este tema, restringir-se ao aspecto da economia, mas deve, também, estender-se à esfera dos valores morais e éticos. Perguntamos: qual a identidade do idoso em nosso País chamado Brasil? Quais as iniciativas tomadas pelo Poder Público ou, mesmo, pela sociedade civil, a fim de garantir a inserção social do idoso nas atividades culturais e de lazer, preservando-o como indivíduo e identidade nas suas várias expressões e disputas sociais? Qual o juízo que a Sociedade Brasileira tem sobre os idosos? Diria que, a esse respeito, a velhice, no Brasil infelizmente muitas vezes é tida como se fosse um estágio da não-vida. Pelos governantes, muitas vezes, seria um estágio do não-direito, justamente agora, quando se fala em reformar a Constituição, onde os direitos de aposentadoria e outros mais se colocam mais uma vez em risco. Portanto, as praças, cinemas, os passeios públicos, que deveriam ser sempre locais onde os encontremos com facilidade, muitas vezes não o são. Muitas vezes são os guetos dos asilos, dos hospitais, das casas mal iluminadas, até nos manicômios e nos isolamentos é que nós podemos perceber, infelizmente e tristemente, a verdadeira situação. Se os filósofos gregos lhes atribuíam sabedoria, os cidadãos brasileiros, muitos deles, e os governantes, muitos deles, lhes atribuem a qualidade de estorvo. Sendo assim, me parece que é visível a nossa dívida e a necessidade de resgatarmos, não só a nível moral bem como também a nível da cidadania, os direitos, também, desses cidadãos, para que aquilo que o poeta canta nos versos, como Chico Buarque canta nesse verso: “um velho de joelhos, sem conselhos, de partida, carrega com certeza todo o peso desta vida. Diga-me agora o que é que eu digo ao povo? O que é que há de novo para lembrar?

Nada, só a longa estrada que eu nem sei aonde vai dar”, para que novos versos sejam construídos e para que uma nova poesia seja afirmada nesse momento, nesse exato momento onde esses direitos, até mesmo assegurados na Constituição de 1988, estão em risco, é fundamental que se aprenda, em momentos como esse, aquilo que muitas vezes nós não conseguimos aprender, que é exatamente aquilo que eu utilizo como referência, duas personagens desta Cidade muito conhecidas e queridas de todos nós. Um deles é o Lúcio Quadros, o Lúcio do Cavaquinho, fundador do Grupo Lamento, e fundador do Clube do Choro de Porto Alegre. E outro é o não menos conhecido Túlio Piva, músico conhecido de todos nós. Tenho tido a felicidade de conviver com eles em alguns momentos e aprendi com esses dois coroas algo que me parece fundamental se resgatar nesse momento, que é exatamente isso que sinto ao conviver com vocês, que é a expressão mais nítida e mais viva nos olhos e no coração de vocês, que é aquilo que a gente, muitas vezes, leva muitos anos para aprender, e que me parece que, às vezes, basta um contato com pessoas que viveram e que vivem a vida radicalmente para aprender que não existirá poder nenhum, que não existirá governo nenhum, que não existirá instituição nenhuma, ou lei nenhuma capaz de roubar isso que é talvez a principal herança que nós temos que aprender com vocês, e que é o que exatamente estou sentindo neste momento, que é a paixão pela vida. Portanto, somente vivendo assim é que nós poderíamos pensar numa nova poesia, numa nova sociedade e num dia melhor, onde esses direitos sejam de fato, definitivamente, resgatados na nossa sociedade.

Portanto, me sinto emocionado em estar convivendo, dividindo este momento com vocês, e para a Bancada do PT significa também aprender um pouco com a vida ao socializar este tipo de angústia, de dúvida e de desafio que estamos tentando solidariamente assumir com vocês, juntamente. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Valdir Bohn Gass, em nome da FESC.

 

O SR. VALDIR BOHN GASS: Prezado Vereador requerente desta homenagem, demais amigos participantes da Mesa e todos os amigos presentes aqui. Para mim, a experiência na FESC, que tem um trabalho que não começou com a Administração Popular, mas que começou e continua com a teimosia de velhos que acreditam na vida - como nossa amiga Siegnifried Kunz, que está aqui presente -, e tem sido uma experiência muito grande e muito profunda. E, cada vez que convivo com velhos, meu pai e minha mãe são velhos, vivem momentos de angústia, pois já não conseguem trabalhar e produzir como antes jovens, e recebem uma aposentadoria, a última que ele recebeu foi de 18 mil cruzeiros. Vocês podem imaginar o que representa para uma pessoa que trabalhou 55 anos ter que enfrentar a velhice deste jeito. Mas o que eu queria dizer é que a convivência com essas pessoas velhas, com essa teimosa resistência de idoso, me permitiu aprofundar muito a esperança, porque ver pessoas com essa idade continuando a se reunir, partilhando, lembro da intervenção do ano passado, da alegria que transbordava nesta intervenção, só pode apontar para a mudança desta realidade. E é a partir desta esperança que a gente quer fazer a reflexão. É exatamente, a esperança que nos leva a pôr os pés no chão, muito firmes, para enfrentar esta dura realidade, que as outras intervenções já lembraram.

E um país, com um sistema econômico, político e social como este, que não tem lugar para as crianças, e que também não tem lugar para os velhos, não merece continuar existindo, não merece. E a luta dessas pessoas que, apesar destas dificuldades, continuam resistindo, aponta para a mudança desta realidade. E uma sociedade como a nossa que valoriza a força de trabalho apenas enquanto ela é capaz de produzir, é isto o que resta à população deste País, vender a sua força de trabalho, junto com um período difícil de recessão que estamos vivendo, que aumenta o desemprego, realmente fecha para os velhos, para os idosos qualquer possibilidade de pegar um emprego para poder sobreviver. A aposentadoria, por dados que temos, que é recebida, hoje, por 10 ou 11 milhões de brasileiros, paga para 80% deles, apenas até um salário mínimo. O que é um acinte para a dignidade de qualquer pessoa humana. E nós temos que nos indignar diante disto. Não podemos ficar indiferentes, porque a gente se acostuma a olhar esta realidade e começar a achá-la normal. E nós queremos gritar alto. E aí as pessoas idosas são importantes, também, para gritar, para a gente ser ajudado, precisamos gritar, precisamos nos fazer ouvir, pedir ajuda para ser sujeito que participa das mudanças.

Mas, mais do que nos indignar, mais do que ficar rebeldemente revoltados contra a situação precisamos pensar em ações concretas para tentar mudar esta realidade. É isso que na Prefeitura estamos tentando aprofundar, e não somos os primeiros, mas queremos dar a nossa contribuição para ajudar a levar adiante esta luta, e lutar por uma sociedade onde, de fato, as crianças, os jovens e os velhos tenham lugar e possam viver felizes. E nós sabemos que isto passa por ter condições mínimas de viver bem, e ao mesmo tempo ter usufruto dos bens culturais que foram produzidos pela humanidade, poder criar mais e mais e ajudar com toda a sabedoria, com toda a experiência acumulada, a traçar os rumos da sociedade nova, diferente, fraterna que queremos construir. E a nossa ação não deve ser movida por pena das pessoas que aguardam um momento menos rigoroso para morrer, não, a nossa ação deve ser movida pelo amor, pela solidariedade, de quem se pões lado a lado, a lutar com eles, para construirmos esse espaço, para vivermos bem. E é esta a experiência que estamos fazendo na Fundação, onde os grupos de convivência se reúnem semanalmente para discutir esses problemas e também se divertir, participar de oficinas culturais, atividades esportivas, para ali se afirmarem, e se construírem como pessoas, como é o direito de todos nós. E, além das atividades que na Prefeitura já estamos desenvolvendo, como ampliar os grupos de convivência, e junto com outras entidades, desenvolvendo o Projeto Porta Aberta, que é a luta para que o idoso tenha direito de ir e vir nesta Cidade.

Nós queremos, hoje, anunciar aqui que na Prefeitura Municipal, a partir da FESC e a SMED, está iniciando mais um projeto que vai envolver os seus centros comunitários e todas as escolas municipais, que é um projeto de educação para o envelhecimento, uma proposta pedagógica que vai procurar, ainda este ano, tentar sensibilizar os professores de todas as escolas municipais e os conselhos, promovendo em novembro um encontro para aprofundar a discussão da temática da velhice, para desde a mais tenra idade, podermos desenvolver uma educação, tanto para os velhos, como prepará-los para viver melhor a nossa vida, cada momento, e para o ano que vem tentar aprofundar esta discussão da velhice nos currículos escolares. Acho que é uma proposta fundamental já dentro dos dados colocados aqui, que é um país que tem problemas sérios com a sua velhice, mas um país que aos poucos também pode estar debelando algumas situações, conseguindo aumentar a idade média da população, portanto, aumentando o número de velhos, e também, por uma série de outros fatores não tem mais essa explosão demográfica que sempre existia no Brasil. Portanto, vamos ter um país que vai ter muitos velhos. Então, a educação para a velhice, a educação para com a velhice, para vivermos bem essa idade e, ao mesmo tempo, nos sensibilizarmos para esta realidade social difícil que estamos vivendo, é fundamental, no domingo que vem, lá no Parque da Redenção, na região do brique vai haver a caminhada dos idosos - que não saiu domingo passado por problema de tempo. Então, quem poder estar nesta caminhada, também vamos anunciar, lá, outras iniciativas da Prefeitura, e estamos juntos com a entidade e a população tentando desenvolver para nos somar, como companheiros solidários, com indignada revolta e rebeldia contra esta realidade que está aí a nos desafiar, para com coragem, pensar em iniciativas novas e diferenciadas, lutar por uma sociedade onde, de fato, as crianças e os velhos tenham espaços para viver felizes. Muito obrigado e parabéns a todos vocês.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr. Antonio Parisi, que falará em nome das pessoas homenageadas.

 

O SR. ANTONIO PARISI: Exmº Sr. Ver. Omar Ferri, Presidente dos trabalhos; Ilmª Srª Iara Rodrigues, Presidenta do Conselho Estadual do Idoso; demais autoridades mencionadas pelo Sr. Presidente dos trabalhos; meus Senhores e minhas Senhoras; Srs. Vereadores. Eu quero iniciar as minhas palavras contando, inicialmente, uma pequena historinha que eu li no jornalzinho do Círculo Operário Rio-Grandense, feito pelo nosso amigo, Dr. Ênio Gastaldo, e que dizia o seguinte: numa determinada família vivia um velhinho que estava jogado no seu quartinho, no fundo da casa, e lá, o seu netinho ia com freqüência ouvir aquelas histórias maravilhosas que todos os avós têm para contar para seus netinhos, das suas vivências, do dia-a-dia nos tempos antigos, difíceis, em que não havia automóvel, em que se vivia com enormes dificuldades. E o netinho estava lá a ouvir o seu avô. Quantos de nós têm esta lembrança grata de ouvir os nossos avós contar histórias magníficas de seu tempo de jovem. Este menino, certo dia, verificou que o seu avô se alimentava numa latinha e ele perguntou para sua mãe e seu pai: “por que dão comida numa latinha para o vovô?” Eles disseram: “ele come numa latinha, porque ele derruba os pratos com freqüência e ele os quebra”. Ele disse: “mas, ontem, deram-lhe uma sopa quente e ele queimou as mãos”. A mãe disse para o netinho: “Isso é problema dele”. Passou-se algum tempo o velhinho faleceu e, quando voltaram para casa os pais foram àquele quartinho modesto e lá começaram a recolher as roupinhas para entregar às entidades e, entre os pertences do velhinho, estava aquela latinha. Quando iam jogar fora a latinha, o menino disse: “pai, me dá esta latinha.” “Para que vai guardar esta latinha?” E o menino respondeu: “eu vou guardar esta latinha, pai, para quando fores velhinho como o vovô, tua vais comer nesta latinha”. É comovente esta história, mas de profundo significado. Quantos de nós sabemos que estão jogados nos fundos das nossas casas muitos velhos e que não têm o devido respeito por parte das pessoas que deveriam devotar respeito pelas suas vidas dedicadas em nosso favor, pela nossa educação, pelo nosso desenvolvimento.

Nós, de repente, estamos nos dando conta pelos discursos que aqui ouvimos, anteriormente, de que estamos nos tornando um país de idosos e que, face ao pequeno incremento de nascimento, muito brevemente, talvez, o País vai ter um crescimento demográfico de 1,5 a 2% ao ano. Mas o crescimento dos idosos têm um crescimento muito superior a este, porque face à longevidade, pelos recursos hoje da medicina, no ano de 2025, nós teremos 33 milhões de idosos, pessoas com idade acima de 60 anos. Talvez não tenhamos 35 milhões de jovens, crianças, porque há uma tendência de não se ter mais filhos e o que vamos fazer? Se não nos dermos conta, talvez vamos ter é uma delinqüência ou uma velhice abandonada, que é o que acontece com os jovens. Então, esta surpreendente notícia de que estamos envelhecendo é profundamente grata para todos nós, mas temos que nos dar conta que inúmeras, muitas providências deveremos tomar e desenvolver uma batalha imediata, urgente, de conscientização, não tanto dos idosos, mas dos jovens para que se preparem para ser um idoso amanhã. E que se prepare psicologicamente para que saiba viver a velhice com dignidade, uma velhice sem problemas próprios, porque hoje o que acontece é que não estamos preparados para uma aposentadoria; não estamos sendo preparados para de repente deixarmos os nossos empregos e sermos jogados num canto da nossa casa e não sermos compreendidos por aqueles que deveriam nos compreender. Por isso, esta batalha de conscientização deve ser urgente.

A Constituição Federal faz sentir para todos nós, e nós somos profundamente responsáveis pela questão, não só dos idosos, como da infância. E diz a Constituição Federal: “A família, a sociedade e o Estado, têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando a sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar, garantindo-lhes o direito à vida”. E para editar o encaminhamento continuado das instituições do asilo, cuja sobrevivência vem se tornando dramática, recomenda ainda a Constituição: “Os programas de amparo aos idosos sejam executados, preferencialmente em seus lares para evitar o que hoje acontece com enorme freqüência” e aqui eu vejo tantas pessoas que são trabalhadores nos chamados asilos e que nós sabemos que aquilo não é abrigo, não é asilo, não é uma proteção, são verdadeiros depósitos de velhos que lá estão sofrendo problemas de saúde, porque não têm remédios; passam frio porque não têm um agasalho apropriado no inverno, então passam o dia deitados na cama. Isso são depósito de velhos, temos que acabar e dar outra forma de abrigo para estas pessoas. O Rio Grande do Sul, mais uma vez no seu pioneirismo, criou em boa hora, em 1988, aprovado pelo governo estadual do Rio Grande do Sul, o Conselho Estadual do Idoso. E este Conselho, face ao lobby, face ao trabalho que foi desenvolvido pessoalmente por muitos dos que estão aqui presentes, conseguimos que se tornasse Conselho Estadual do Idoso como um órgão constitucional, aqui, no Estado do Rio Grande do Sul, e foi consagrado pela nossa Constituição, no seu art. 260. E esse Conselho não foi imposto de cima para baixo, mas o seu nascimento foi o resultado da reivindicação de 20 entidades da sociedade civil, e da aspiração legítima dos idosos em alcançar seus plenos direitos como cidadãos.

Esse Conselho de Idosos tem como linha de ação assumir o desafio de formular políticas orientadas a superar as dificuldades vividas pelos idosos na atual sociedade, criar instâncias de articulação entre o Estado e os idosos, promovendo espaços e canais de participação, propor a sensibilização da comunidade em geral para situação atual da velhice e incentivar a integração social dos idosos para a formação de um mentalidade de valorização e formação desse segmento social, para ter uma vida digna de cidadania constitucional. E, dentro da sua filosofia primordial, cabe ao Conselho Estadual do Idoso agir pela valorização da família e pela integração das gerações. Nós, neste momento, estamos fazendo um recenseamento e por certo vamos nos surpreender que nós temos muito mais idosos do que imaginamos. Só no Rio Grande do Sul, hoje, devemos ultrapassar os 700 mil idosos, pessoas com mais de 60 anos e, como disse, com a queda da fecundidade no País, alguns demógrafos estimam que o decréscimo de nascimentos será substancial, e que nós estaremos, talvez, no fim desta década, com os mesmos índices que existem nos países desenvolvidos. E, como foi dito anteriormente por oradores que me precederam, no ano de 2025 nós teremos 33 milhões de idosos. Uma das coisas talvez mais reveladoras do censo que se está estabelecendo, sem dúvida, é a confirmação de que o Brasil começa efetivamente uma chamada transição demográfica. A questão do idoso terá que ser investida de forma clara e específica. Esse fato novo que o censo vai nos trazer, obrigatoriamente terá que entrar na agenda das preocupações das autoridades, quando teremos que criar pesquisas que acompanhem especificamente a situação, detectando anseios e necessidade dos idosos. Necessariamente, os governos federais, estaduais e municipais terão que se preocupar com a questão imediatamente, se preocupar a curto prazo, não podemos esperar mais solução. O novo enfoque das políticas públicas tem que levar em consideração essa nova composição da estrutura etária da nossa população. É preciso que os governos comecem a se programar visando a atender as necessidades dessa população idosa, não só do ponto de vista assistencial, mas com muitos projetos dirigidos a essa demanda iminente que aí está batendo às nossas portas. Eu quero, em nome do Conselho Estadual do Idoso, que coordena, em nível estadual, e que tem desenvolvido um trabalho extraordinário para que o pensamento de defesa do idoso realmente crie foros definitivos e práticos, agradecer pela homenagem que está sendo prestada aos idosos do Rio Grande do Sul e, principalmente, do Município de Porto Alegre, por esta egrégia Câmara, que muito honra a nós todos que somos idosos, porque notamos que eles não se esquecem de nós.

Queremos dar um destaque especial ao requerente Luiz Vicente Dutra que em inúmeros momentos de sua vida política e pública tem manifestado um particular carinho pelo idosos do Município de Porto Alegre. Queremos elogiar, também, tantos grupos que aqui estão representados e não apenas para receber as homenagens, grupos esses que estão eloqüentemente trabalhando em todos os seus setores de atividades, estão espalhados por todas Porto Alegre, por toda Região Metropolitana e pelo interior do Estado, defendendo os seus direitos, vivendo a sua cidadania, mostrando que são cidadão dignos e vendendo o amor que eles têm no coração, fazendo com que o velho realmente se realize cada vez mais. E, finalmente, encerrando as minhas palavras de agradecimento à Câmara de Vereadores, a todos os Vereadores, quero citar, aqui, uma oração dos idosos, de um autor desconhecido, que diz o seguinte: “Senhor Deus queremos agradecer a vida que temos hoje e, como eternos pedintes que somos, solicitar a vossa ajuda para os Idosos do Mundo.

Somos gratos, Senhor, pela família que temos, pelos filhos que merecemos, pelos netos que ganhamos e pelos amigos que conquistamos.

Nosso muito obrigado por estarmos aqui, repletos de felicidades envolvidas pelo teu imenso amor, iniciando mais um evento importante para a nossa vida.

Querido Pai, os cabelos brancos que hoje ostentamos, as rugas que marcam nossas faces, o corpo um tanto encurvado para a frente e este sorriso que emoldura os nossos rostos, são diplomas obtidos na grande Escola Universal da Vida. E, estes galardões, Senhores dos Mundos, colocam-nos na posição privilegiada de depositários de experiências e conhecimentos.

Aceitai, Bondoso Pai, o nosso peito emocionado e repleto de amor e atendei o pedido que agora formulamos a uma só voz e a um só pensamento:

Senhor ajudai às milhões de pessoas idosas, como nós, a viverem melhor, a se respeitarem, se entenderem e, se possível, se amarem! Amém.” Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Artidor Zimmermann, que falará em nome da Associação de Clubes da Maioridade do Rio Grande do Sul, e, antes, registramos a presença em Plenário do Ver. Artur Zanella e da representante da Secretaria Municipal de Educação, dona Maria Inês Campos, e também do Ver. Luiz Braz.

 

O SR. ARTIDOR ZIMMERMANN: Exmº Sr. Omar Ferri, Vice-Presidente da Câmara de Vereadores; Ilustre Ver. Vicente Dutra, signatário desta proposição para homenagear os idosos, Srs. componentes da Mesa, meus queridos companheiros. Queremos, em nome da Associação de Clubes da Maioridade do Rio Grande do Sul, agradecer a esta Casa por haver tributado estas homenagens aos idosos do nosso Estado.

A Associação de Clubes da Maioridade teve origem na Europa, quando um grupo de idosos foi submetido a um questionário, e, entre outras, coisas, foi colocado o que eles gostariam de fazer nesta faixa etária. Surpreendentemente, 97,3% responderam que gostariam de viajar. Isto preocupou os governos, inclusive o nosso. O Governo do Brasil chamou o Diretor da Embratur e perguntou a ele o que poderíamos fazer pelos nosso idosos. Foi pedido apenas um mês de prazo. O Diretor da Embratur reuniu toda a rede hoteleira, todas as empresas transportadoras de turismo do Brasil e colocou a questão. Felizmente o ramo hoteleiro se propôs a dar substancial abatimento para hospedar os grupos de idosos, na baixa temporada. E foi muito surpreendente, porque uns davam 20, 30, 40 e até 50%. Não pôde ocorrer isto com as empresas transportadoras, porque tinham problema do combustível. Mas todas elas se propuseram a firmarem convênio com a Embratur, fazer abatimentos para os idosos que quisessem, na baixa temporada, viajar. Isto foi iniciado em todo o País, São Paulo, Bahia, Belo Horizonte, e, finalmente, no Rio Grande do Sul.

Nós estamos dirigindo esta parte. Estamos, há pouco tempo, desenvolvendo este trabalho, mas já temos a alegria de termos vários grupos organizados. Devemos organizar muitos em Porto Alegre, sempre que houver grupos de 40 a 150 idosos, formaremos novos grupos. E pelo menos um no interior, em cada Município, e, quando a densidade demográfica for maior, formaremos dois, três ou quatro grupos por Município.

E tem sido surpreendente, tivemos há poucos dias no Município de Cristal, jovem Município, onde um grupo foi lá para visitar o Museu de Bento Gonçalves. E, chegando lá, havia uma chama crioula no galpão e um grupo de jovens escoteiros de Pelotas fazendo guarda para a chama crioula. E este grupo de escoteiros, esta guarda deste grupo foi substituída pela guarda desse Clube da Maioridade que lá foi visitar.

Isso, minha gente, se chama uma coisa que simboliza muito, o idoso substituindo o jovem naquela vigilância ao sagrado fogo simbólico.

E assim, minha gente, já temos no interior e em vários Municípios, e vamos fundar muitos outros clubes. Nossa luta não pára aí. Vamos trabalhar muito e com afinco para retirarmos todos os idosos da frente da televisão. Que saiam a passear, que vão fazer o que mais gostariam de fazer. Que isso seja subordinado grandemente a sérios empecilhos que o nosso pessoal enfrenta. Mas, no dia em que o nosso pessoal tiver uma aposentadoria condizente, que não precise estar remoendo no fundo de uma cama a sua dor, a sua doença, sem poder tomar um medicamento, mas que seja um País que possa dar a ele o acompanhamento, o medicamento e o conforto que ele tanto necessita.

Vejo, e com satisfação, que, nesse auditório, estão presentes alguns jovens. Tenham certeza que não os culpamos por este estado de abandono, e até mesmo relegados a um segundo plano como estão os idosos. Isto tudo é fenômeno de uma formação.

Mas eu tenho certeza, e o Vereador Vicente Dutra disse com muita propriedade, de que os jovens de hoje serão os idosos de amanhã. Que vocês cheguem a idade que chegamos e, acima de tudo, com dignidade. Vejo, aqui, vislumbro tanta gente que nesta cruzada já nos encontramos. Queridos companheiros do Conselho Estadual do Idoso, que vem trabalhando afanosamente em prol desta causa, os companheiros do Clube da Maioridade e de tantos outros grupos que aqui se fazem presentes.

Nesta oportunidade em que agradecemos esta Casa a lembrança de sermos homenageados, um abraço muito afetuoso. (Palmas.) Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Dizem que o protocolo das Casas Legislativas, dos Parlamentos deste País, são absolutamente rígidos, eu digo que o protocolo da Câmara de Vereadores não deve ser rígido, pelo menos eu não me submeto a isso, porque eu quero ouvir a voz de uma senhora idosa, razão pela qual eu passo a palavra à Ilmª Srª Elly Rotermund Kohlmann, para encerrar com honras e glórias a Sessão Solene de hoje.

 

A SRA. ELLY ROTERMUND KOHLMANN: Eu sempre acho que, para compreender os jovens, nós, que estamos na terceira idade, temos que nos atualizar, porque nós tivemos a nossa geração. Eu sempre acho que, para sermos queridos pelos jovens, nós sempre temos que saber o que fazer, porque os idosos sempre dizem: “Ah, no meu tempo os jovens eram melhores”. Não, os jovens sempre são muito queridos, nós é que temos que compreendê-los e amá-los. Dizem que a juventude é linda, mas os idosos felizes, também são, eles não precisam ficar tristes, jovem ficou o seu coração, caminhando devagar, saber o seu lugar, queremos bom exemplo dar, por isso o sorriso é a única coisa que não paga imposto ainda, então vamos sorrir. Muitas pessoas esqueceram de sorrir, de manhã cedo, vocês nem sabem como é bom sorrir, o sorriso dá mais um amigo, o sorriso é melhor do que os melhores remédios, o sorriso faz bem para todo o mundo. Diz também: “por tua mão me guia, ó Jesus, estou envelhecendo, preciso luz; os cabelos embranqueceram, não posso andar, preciso de ajuda que só Tu podes me dar”.

Então, eu creio que conheço todo mundo aqui, o nosso querido padrinho Vicente Dutra e a dona Nara, etc., mas o meu ex-noivo que é o meu marido, porque já fizemos bodas de ouro. (Risos.) Meu ex-noivo, ele não está muito bem, então tenho que deixar com uma pessoa, porque ele merece, depois de tantos anos em conjunto, não é?

E, para terminar, eu adorei estar aqui, eu sou uma pessoa muito feliz, eu tenho 76 anos, a Dona Emília Lampert, uma vez alguém disse: “84 anos a senhora tem?” E a Senhora disse: “não, eu 86”; eu gostei sabe? Pois é eu sou feliz se fosse já. Oitenta anos, noventa anos, no nosso grupo, nós temos uma pianista com 90 anos que toca valsa e dança e todos dançam. Fazem teatro, danças, tudo, a terceira idade é a idade da sabedoria. Então, cada vez queremos ser um pouquinho melhor do que hoje. Problemas todo o mundo tem. O coração é nosso, pode chorar, mas o rosto é de todos e deve sorrir. E muitos acham que quando têm um problema em casa têm que fazer uma cara fechada e aquela pessoa sempre diz a mesma coisa: “Ah, é tão ruim a vida!” Porque, quando eu caminho, eu não tenho carro, caminho pela rua e falo com todo o mundo. Estes dias vi uma pessoa idosa na minha frente toda triste e pensei, eu tenho que alegrar esta pessoa. Botei a mão no ombro dele e disse assim: “O senhor sabe que o Senhor é o meu pastor e nada me faltará?” Ele olhou e disse: “Isso já era, minha Senhora”. (Risos.) Ele não queria aceitar Jesus na sua vida, mas, depois de um tempo, ele atravessou a rua para falar comigo e disse assim, ele estava com piedade de mim: “Embora a senhora acredite em Deus, eu gostei de falar contigo”. Quer dizer: entrou uma semente no coração dele. Isso eu gostei muito. Então, quando chegarmos em casa, hoje, vamos sorrir. Se o marido está doente, ou tem algum problema, ou não temos dinheiro, quem é que tem muito dinheiro hoje? Ninguém. Mas ter amigos é algo que a gente conquista. A gente é muito feliz em ter amigos.

Eu trouxe a minha gaita de boca só para terminar.

 

(Realiza uma apresentação da canção “Prenda Minha”, com gaita de boca.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Sabe, dona Elly, eu sou um “cara” muito exibido. A senhora tem 77 anos, tem a idade da minha mãe, e sabe que eu estava olhando para a senhora e vendo a sua expressão, a sua alegria, a sua felicidade, a sua aura, a senhora sabe que a Senhora é muito bonita, mas muito bonita, reflete beleza, meus parabéns.

 

A SRA. ELLY ROTERMUND KOHLMANN: Ser feliz é fazer os outros felizes.

 

O SR. PRESIDENTE: Estou me lembrando agora que uma vez fui receber numa Universidade do Rio de Janeiro um prêmio de direitos humanos. O Diretor da Universidade, que é irmão do Presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil de hoje, depois da solenidade da entrega do prêmio houve um almoço e eu sentei numa mesa com as seguintes pessoas: Austregésilo de Athayde, mais de 90 anos; Cândido Mendes; Barbosa Lima Sobrinho, mais de 90 anos: Sobral Pinto, mais de 90 anos, este, aliás, eu já conhecia por causa da Ordem dos Advogados do Brasil, nas andanças dele aqui pelo Rio Grande do Sul. Então, quero dedicar esta solenidade a essas pessoas, com suas idades maravilhosas que ainda estão no jardim da infância da luta pela vida: Austregésilo de Athayde; Barbosa Lima Sobrinho; Sobral Pinto; Cândido Mendes; Dercy Gonçalves; uma uruguaia muito amiga minha, Vice-Presidente da República, Ministra da Educação, Deputada por várias legislaturas, poetisa e conhecida como Senadora Alba Robajo; uma senhora chamada Itália Zuffo, que é tia da minha mãe, que mora na Linha Viena, no Município de Anta Gorda, neste Estado, e que tem 96 anos; meu pai, que amanhã faz 80 anos de idade.

E termino dizendo que nos olhos dos jovens brilha a luz da vida, mas nos olhos dos velhos brilha a luz da sabedoria. Quero, ainda, dedicar esta solenidade a duas senhoras muito especiais: dona Maria Leda Pereira e dona Isabel Camargo, que estão aqui presentes.

Neste momento, encerramos os trabalhos desta Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h29min.)

 

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